Espetáculo Marias da Luz-
Parque da Luz, ou melhor, Jardim da Luz. O primeiro de São
Paulo. Um lugar onde passado e presente convivem em cada recanto, criando a
possibilidade de um novo, de um outro tempo. Um tempo que abarca a realidade,
mas também a ultrapassa. Um tempo habitado por pessoas de todos os lugares do
Brasil e do mundo. Pessoas com as mais diversas histórias, idades,
experiências. Algumas sentadas nos bancos, trabalhando. Outras, esperando,
procurando uma conversa ou um momento de silêncio. Algumas passeando com a
família, visitando o museu. Outras solitárias. Crianças, adultos, velhos. Todos
habitando esse mesmo lugar. Um lugar de chegada e de partida, mas também onde é
possível estar, ficar, ser. Um ponto de encontro. Da beleza, da glória com a
decadência. Da alegria, do prazer com a solidão.
São tantos os caminhos possíveis para criar uma dramaturgia
a partir do contato com esse espaço único em São Paulo, tantas as vozes, as imagens,
as sensações, que durante o processo de trabalho do grupo no Parque da Luz o
desafio se tornava maior a cada momento. Como criar um trajeto que possa
contemplar todos esses caminhos, visões e vontades diferentes?
Nesse um ano e meio em que estivemos no Jardim da Luz,
encaramos esse desafio. Foram inúmeros depoimentos recolhidos pelo grupo, todos
revelando histórias, lembranças e principalmente o afeto de cada um por esse
lugar. Todos revelando uma busca contínua, uma batalha por sobrevivência, por dignidade,
pela possibilidade de encontro e de acolhimento.
O processo foi longo, intenso, muitas vezes dolorido, as
escolhas sempre muito discutidas, debatidas, mas chegamos a um olhar que talvez
possa representar o grupo. O nosso olhar, o nosso depoimento sobre esse jardim
tão diverso: o espetáculo Marias da Luz.
As nossas Marias trazem para a Luz um pouco das histórias de
mulheres e homens que dão vida a esse parque. São Marias de agora e de
antigamente. Marias que saem de retratos de tempos diversos e se fazem
presentes hoje, com seus desejos e suas feridas. Marias capazes de atravessar
esses tempos e espaços sem desistir da busca por amor, por afeto e por um lugar
onde é possível ser aceito, ser sujeito de sua própria frase. Marias que
transformam a dor em luta, o abandono em encontro, criando novas
possibilidades. Novas possibilidades de vida e de arte. De retratos do Jardim
da Luz. Retratos em movimento, de um lugar que nunca está parado no tempo. Um
lugar de ontem, de hoje, de sempre.
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